quinta-feira, 27 de junho de 2013

De malas prontas

Diário de uma Borboleta - Arrumando as malas.

Às vezes eu tenho a impressão que só depois que as pessoas assistirem a Babilônia elas vão poder entender de verdade o que se passa nos meus dias, dia a pós dia da mesma coisa que parece não ter fim. É possível também que elas nunca entendam ou que nem precisem entender.

Arrumando as malas para essa tal viagem, me fazendo parecer mais forte do que sou. Não esqueço... não esqueço... nem por um por um segundo de colocar as mesmas vozes que escuto todos os dias, não esqueço de colocar todo o suor da tentativa incessante de falar e ser ouvida... Não me esqueço de colocar as asas, já quase destruídas... mesmo que não voe, mesmo que não usadas, elas estarão lá, por via das dúvidas... Elas ainda estarão lá!

No meio dessa arrumação de malas, um pouco antes da viagem. Vi uma nuvem grande de fumaça pelo país, uma movimentação de pessoas há muito tempo não vista. E em um dia, bem aqui nessa cidade eu estava lá no meio de uma multidão de pessoas, mas todas falavam uma língua diferente, gritando pela não violência, mas violentando outras pessoas... eu só queria falar que nada daquilo que eu via fazia sentindo, não assim do jeito que eles faziam, mas eu também falava outra língua, e foram cada qual pra um lado, segurei as lágrimas nos olhos e por um momento pensei em desistir de tudo.

A minha manifestação, às vezes não cabe na rua e em gritos... Às vezes faz mais sentido, em forma de poesia, em forma de arte. E sinto que nunca foi tão forte como agora, apresentar a Babilônia e talvez as pessoas possam entender o que não cabe em simples palavras tudo o que eu quero dizer.

Juliana Araujo

Chegou a hora!

Desde o início do processo de criação deste espetáculo, minha Babilônia já estava fortemente ligada aos meus olhos cansados refletidos em janelas de ônibus abarrotados de pessoas.

Os últimos acontecimentos no Brasil parecem dialogar com o caminho que percorremos nesses dois anos e meio de processo. Acredito que a reestreia de uma temporada grandiosa não poderia ser em outro momento. Mesmo tendo na garganta o gosto amargo do atraso da verba e do descompromisso do poder público, parece que não existiria época melhor para estarmos, de fato, perto do povo, apresentando.

De malas prontas. Em minha mochila estão: uma agenda, minha caixa de lápis de cor e uma garrafa com água. Nada de coisas pesadas. Rumo a nova temporada ba.bi.lô.nia. [compactada].

Na agenda de meia idade, o retrato das sensações deste ano de 2013. Espera, agonia, surpresa, decepção, superação, força, cautela, paciência e, acima de tudo, vontade.

Em minha querida caixa de lápis de cor, tons de vermelho e azul escuro: Vermelho sal, vermelho resistência, vermelho terra, amor avermelhado, vermelho explosão, vermelho garra, azul concentração, integridade azulada, azul poesia e, por fim, azul dedicação.

E na garrafinha, água filtrada, a fim de hidratar movimentos e olhares.

Assim, finalmente, é hora de ir. Aguardo no ponto de ônibus, com minha mochila leve nas costas.

Até.

Aline Fonseca

Meu coração bate mais acelerado em repouso.

Domingo é a estreia da ba.bi.lô.nia.


Estreia? Mas já nos apresentamos ano passado (3 apresentações e meia, nós e a chuva, como esquecer?)

Muito mudou desde então... tanto que nem consigo saber como era a faxineira da temporada passada, nem como era a Gabriela antes desse ano.

Quando começamos o ano, concordamos em aprofundar nos preenchimentos, em sermos porosos. E mesmo sem entender direito o que seria isso, jamais pensaria que seria tão profundo a ponto de mudar mesmo a minha visão sobre o mundo, sobre os homens, sobre o dinheiro. Até um dia em que eu andava em direção ao ponto de ônibus para trabalhar e uma força oposta parecia me puxar para trás (a faxineira tem um momento assim) até um ponto em que eu realmente tive vontade de gritar por aí “Estamos fazendo as coisas erradas, o mundo está errado, onde vamos parar?” (a faxineira tem um momento assim) até o ponto em que me disseram que se eu estava tão insatisfeita com o país, para onde eu gostaria de ir, e quis responder: só consigo pensar em universos possíveis.
        
Então começaram as manifestações pelo país, e eu só conseguia pensar através dos olhos da faxineira. “Vi que aqueles filhos de Noé precisavam criar alguma coisa juntos, senão eles iriam se espalhar pela face da Terra”; o povo foi um só. E então cada um começou a condenar a presença ou ausência de partido, toda aquela força de gente passou a não se entender mais. “O senhor Deus desceu para ver a cidade e a torre que eles construíam e disse – A partir de agora se não forem detidos, nada haverá de restrição para tudo que eles quiserem fazer, é preciso confundir a sua língua, para que um não entenda a língua do outro”.
        
E a partir daí, percebi que a vida me ajudava a entender a ba.bi.lô.nia, e mais forte ainda, que a ba.bi.lô.nia me ajudava a entender a vida.
        
O que mudou do ano passado para esse? Saí de mim... Antes, todas as referências de dores, eram as minhas. E a faxineira me ensinou a sentir as dores do mundo.

Assim, comecei agora a fazer teatro, comecei agora a viver.

E domingo é a estreia.

Gabriela Saiani